quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

NAIARA.




Naiara saiu de uma prova de psicopatologia e caminhou até o banco para fazer um pagamento, chegou esbaforida do sol quente, cansada e com sede e ao se deparar com o tamanho da fila, ficou desanimada, além de estar com fome e com sede, pois era quase hora do almoço.

Pegou seu livro e conseguiu ler algumas páginas, mas o barulho dificultava sua concentração, resolveu parar de ler e observar as pessoas, pois como futura psicóloga, adorava aprimorar sua capacidade de observação. Observou a fisionomia das pessoas e pensou como as pessoas estavam demonstrando cansaço na fisionomia, mas não só o cansaço físico, um cansaço na alma, viu insatisfação, em algumas viu tristeza nos olhos, viu raiva, vários sentimentos que estão nos olhos e no corpo das pessoas, que muitas vezes nem elas mesmos se dão conta. O banco estava cheio, e o barulho a incomodava, pensou em como as pessoas estão ficando surdas, e cada vez falam mais alto, a humanidade está cada vez mais barulhenta, é impressionante a falta de percepção das pessoas. Ouvia alguns conversando e reclamando do banco, outro falando ao celular, outros olhando para o tempo, é incrível como sempre tem um espertinho querendo furar a fila, sempre tem uma desculpa esfarrapada, é muita cara de pau dessas pessoas, e sempre também tem uma barraqueira pra fazer barulho, sempre tem aqueles com uma pasta com trezentos pagamentos para fazer que demoram meia hora, acontece de tudo, é engraçado. Fila de banco é uma ótima oportunidade para ler, mas a única pessoa que estava com um livro visível ali era ela, ninguém aproveitando aquele tempo perdido na fila para ler, e pensou em como o brasileiro lê pouco, uma lástima, realmente, uma lástima. Já fazia mais de quarenta minutos que estava na fila, estava quase sentando no chão, de tão cansada, com dor nas pernas e na coluna, que desrespeito, podia ter pelo menos cadeiras para as pessoas sentarem. Começou a se concentrar na fila dos idosos, até eles reclamavam da demora, de alguém que passou na frente, alguns falavam da mocidade, outros dos netos, olhou a fisionomia daqueles idosos e viu a diferença entre cada um, uns mais descontraídos, outros ranzinzas, uns de bom humor, outros muito contraídos e amargurados. Olhar para aquelas pessoas já na maturidade, a fez refletir sobre a vida e sobre a maturidade, sobre a tolerância, sobre a importância de aprender com as lições da vida e chegar à maturidade feliz, de bem com a vida, com sabedoria, devia ser horrível chegar na velhice amargurado, infeliz, frustrado. Várias questões vieram à sua mente.
Um dos caixas fechou seu caixa e saiu, era hora de almoço e o horário dele tinha encerrado, vários reclamaram, outros xingaram, agora é que ia demorar mesmo, fiquei imaginando os outros dois caixas que restaram com uma crise de dor de barriga naquele momento, coitados, iam ser xingados até a terceira geração. Que profissão ingrata, não tem direito nem de fazer xixi, Deus me livre.
Sua vez chegou, foi atendida em três minutos. É mole ficar quase uma hora e meia na fila para ser atendida em três minutos??? Deu uma última olhada para a fila, e saiu do banco pensando na complexidade do ser humano, foi a pé para casa, umas oito quadras dali, foi refletindo na riqueza que foi para ela observar as pessoas ali, na enorme diferença entre cada ser, na complexidade da natureza humana, e como até fila de banco pode servir para aprender mais sobre a vida e o ser, aprendeu também a não atrasar mais pagamentos e também não ir com fome, pois estava passada de fome, hora de almoço é lá hora de ir para o banco.

JANAINA ISMENIA DE MELO
(foto tirada da internet)

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