sábado, 5 de dezembro de 2009

A IMPORTÂNCIA DOS AFETOS NA DINÂMICA FAMILIAR!!!





Este trabalho tem como tema a importância dos afetos na dinâmica familiar. Foi abordada a dialética dos afetos na formação psíquica do indivíduo e da família. A importância da família como local de ambivalências, mas, também, de construção do social e da subjetividade do indivíduo, mostrando a formação dos vínculos e da formação da linguagem, do simbólico e do imaginário para a construção do Ser enquanto ser de linguagem, ser social e ser de afetos. A importância das pulsões e do complexo de Édipo para a formação psíquica do sujeito e da família enquanto lugar de conflitos, desejos e afetos.
Desde o começo da civilização, o homem se organiza histórico-socialmente enquanto grupo, constituindo-se como família ao longo dos séculos. A família enquanto formação sócio-cultural adquiriu uma importância fundamental para a formação social e psíquica do homem. Como afirma a Antropologia, ela é um fenômeno universal, seja qual for a cultura ou país, em todo grupo humano, a família está presente, com suas mais diversas formações e hábitos culturais. Enquanto grupo social é um lugar de afetos, de sentimentos, de trocas e vínculos. A família tem uma importância crucial no desenvolvimento do ser humano, enquanto formação do ser e da personalidade.

Mesmo com todas as crises sociais contemporâneas, onde muitos valores e instituições estão sendo questionada, inclusive a família, ela ainda continua tendo sua importância social e psíquica. Continua sendo a base de formação do ser. Na contemporaneidade ocorrem muitas mudanças de valores, de paradigmas, de convenções sociais, muitas mudanças no mundo contemporâneo que a coloca em situações de desafios e mudanças, mas, sem deixar seu lugar de estruturação social e psíquica.
Família sempre foi amplo campo de estudo com profundas discussões no campo teórico, grandes personagens da história do mundo das idéias, no tocante a psicologia demonstraram sua preocupação desenvolvendo um conjunto de idéias que nos permitiu ser orientados teoricamente nesta pesquisa. A preocupação com a mesma nos sugere que é neste local, onde acontecerão os principais aspectos fundamentais na formação do sujeito. Está clara a importância da primeira idade da criança e seu desenvolvimento, onde uma série de acontecimentos terá a família como suporte e como idealizadora, pensar assim o envolvimento dos atores que a compõem na formação individual, lançando a perspectiva dialética na relação familiar. (BOTTURA JUNIOR, 1994, pág. 19) “Já foi provada, cientificamente, a importância dos primeiros anos de vida do homem no desenvolvimento de sua personalidade.” Vários autores se referem de maneira pontual que o individuo terá sua formação no apoio e no campo familiar. Será a primeira célula socializadora, onde teremos a formação das regras, da ordem da castração, da limitação, mas também, e, não menos importante, o campo dos afetos onde este será a base da nossa fundamentação.

Somos seres racionais afetivos, temos todos nós um sistema neuro-funcional e neurofisiológico apto, que nos possibilita sermos seres de afetos. Nunca foi fácil transcorrer a respeito dos afetos, sabemos que eles existem e temos a certeza na expressão dos mesmos, porém não é fácil sua delimitação.
A família é um lugar de múltiplos afetos, podemos mencionar o amor, carinho, amparo, o ódio, a inveja, os ciúmes, e todos esses afetos e sentimentos colaboram para a estruturação íntima de cada membro da família e da sociedade. Estes múltiplos afetos são fundamentais para o enriquecimento de cada ser e para a dinâmica familiar, onde tudo é mutável e intenso, nada é estático nas relações humanas, muito menos na família. A formação dos vínculos se dá nessa dinamicidade de afetos e sentimentos, sendo de fundamental importância para a formação da personalidade e para a riqueza psíquica do indivíduo a interação destes afetos, nessa dialética de sentimentos, os papéis e funções dentro da relação familiar são muito importantes, pois possibilita ao indivíduo fazer parte ativa da sociedade enquanto cidadão. Neste contexto de múltiplos afetos, a família enfrenta suas crises, tanto internas, quanto sociais. Sendo de fundamental importância levar em consideração a participação da mídia neste processo de mudanças de valores e regras sociais, pois como diz Adorno, um filósofo contemporâneo, vivemos no mundo do espetáculo, onde a mídia tem um papel fundamental de “imposição” de valores que são impostos pelo neoliberalismo e pela ideologia do consumismo em que vivemos, onde tudo vira mercadoria, onde o que impera é a ordem do consumir, inclusive valores e novos padrões sociais e processos de subjetivação.
Talvez a nossa compreensão no tocante aos afetos seja de forma incoerente, determinando a qualidade dos afetos em bons e maus, agindo assim de forma discriminada. A família tem uma participação importante, pois é onde incorporamos de forma subjetiva a qualidade destes afetos, muito do que se fala no cotidiano familiar sobre os afetos, faz pensar que a família é campo de um único afeto, o que não é verdade, pois, talvez aquele que melhor nos expressa enquanto sujeito é o amor, (BARROS, 2003), este autor refere-se ao amor da seguinte maneira:



“O amor deve prevalecer, porque ele faz do indivíduo humano um ser humano. Identifica-nos e, assim, gera em todos nós solidariedade entre todos nós, que é a única força capaz de construir – dignamente – a humanidade em todo o agrupamento humano, a partir de sua grei inicial: a família.” (pág. 149)


Podemos perceber a importância do amor na relação familiar pelas obras do pediatra e psicanalista D. W. Winnicott (1886), quando elabora seus ensaios, viabilizando toda uma explicação sobre a ligação que está na relação mãe-bebê, ele concebe que o afeto está ligado desde o início da gestação como também no ato da amamentação. Neste ato, a mãe age como peça importante na relação, criando um vínculo de afeto com a criança, mesmo sendo essa criança ainda um bebê e não entenda ainda a lógica da relação. Observe que isso é uma consideração fantástica, pois é propor que uma criança para além da relação lógica causal deste ato, concebe deste então o afeto da mãe, teremos assim uma ligação promovida pelo afeto. Winnicott fala ainda que (2001, pág.3) “Muita coisa acontece no primeiro ano de vida da criança: o desenvolvimento emocional tem lugar desde o princípio; num estudo da evolução da personalidade”, sendo assim uma questão fundamental para o indivíduo é que a família é parte integrante do processo de formação da identidade. A formação da identidade enquanto ser humano, ser social, ser psíquico, ou seja, a identidade em todas as suas instâncias, passa necessariamente pela família, seja qual tipo de configuração familiar o indivíduo vivencie. Uma questão importante é desmistificar a família só como lugar de amor, a família enquanto grupo social é o local dos mais diversos afetos e desejos, pulsões e fantasias, necessidades e funções. É nessa ambivalência de afetos e sentimentos que se estrutura a linguagem, o imaginário e o simbólico no ser humano, instâncias psíquicas fundamentais para o desenvolvimento do sujeito enquanto ser psicossocial. É importante não esquecer o lugar das diferenças dentro da família, pois só na diferença é possível estabelecer identidades e vivências múltiplas e a formação da subjetividade de cada membro familiar.
O que a criança mais recebe durante seu desenvolvimento é afeto, ele está na relação, nos gestos, nos atos, no comportamento como um todo, tudo que a criança recebe como via dos afetos e que vai compor seu desenvolvimento emocional. Também a própria criança requer muito dos pais essa dependência emocional. (WINNICOTT, 2001) “A integração parece estar ligada às experiências emocionais ou afetivas de caráter mais definido, como a raiva ou a excitação provocada pelo oferecimento de comida.”
Na ótica psicanalista no ambiente familiar o afeto pode ser pensado em duas constituintes do sujeito importantes para psicanálise. Temos em nós duas pulsões importantes a de vida (Eros) e a de morte (Thanatos), onde no individuo se reconhece essa pulsão na forma de afetos, onde o amor e ódio são as duas faces da mesma moeda, quebrando um paradigma no senso comum de dualidade entre o amor e o ódio, (GROENINGA, 2003, pág. 129) “Eles nos aparecem sob a forma de afetos, amorosos e hostis. A afetividade é, portanto originária e ambivalente,” essa pulsão também é ponto primordial da elaboração teórica da psicanálise para enunciar a constituição psíquica, assim o afeto aparece como o canal para expressão dessas pulsões, e como já tratado, a família está no encargo dessa dinâmica para elaboração subjetiva, onde cada um tem sua própria experiência a partir da vivência dos afetos. A outra parte importante originada do seio familiar é conhecida como o Complexo de Édipo. Por meio desse complexo edipiano vivenciaremos os conflitos da primeira infância, e desenvolvemos certa maturação psíquica. Remetemos novamente a Groeninga que diz que:

“Retornando à descrição do que Freud chamou de ambivalência afetiva originária e a vivência edípica que vai imprimir aos afetos uma direção, retomamos que são naturais os desejos amorosos e hostis que a criança tem em relação aos pais. Tais sentimentos são alternados de um genitor para o outro, conforme o ciclo vital,” (2003, pág. 131)


Os afetos têm uma importância crucial para a estruturação psíquica, familiar e social, está presente no Édipo e nas pulsões, na formação da família como constituição afetiva, ambivalente ou não. É importante lembrar a dualidade dos afetos como presente e funcional para elaboração do sujeito em todas as suas instâncias psíquicas.





BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BARROS, Sérgio Resende de. Direitos humanos da família:: dos fundamentais aos operacionais. In:. Direito de família e psicanálise: rumo a uma nova epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, 2003. p. 143-154.

BOTTURA JUNIOR, Wimer. A paternidade faz a diferença. São Paulo: Editora Gente, 1994.

WINNICOTT, D.W. . A família e o desenvolvimento individual. 2ª São Paulo: Martins Fontes, 2001.


________________Tudo começa em casa. 2ª São Paulo: Martins Fontes, 1999.


GROENINGA, Giselle Câmara. Família: um caleidoscópio de relações. In Direito de família e psicanálise: rumo a uma nova epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, 2003. p. 125-142


JANAINA ISMENIA DE MELO
FOTOS TIRADA DA INTERNET.

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