quinta-feira, 11 de março de 2010

PARA ONTEM...


Hoje a pressa é a tônica do dia-a-dia e das relações. Vivemos sobre a pressão esmagadora do tempo e da falta de tempo, não temos tempo para brincar com nossos filhos, para apreciar o pôr do sol, as flores no jardim, de perceber e sentir como estamos e como está nosso parceiro(a), falta tempo para SER, pois o ter esmaga nossa possibilidade de SER no mundo capitalista e consumista que vivemos. Tudo tem que ser para ontem, para semana passada, e assim perdemos a capacidade de estarmos presente no agora, vivemos presos no passado e presos num futuro que ainda não chegou, mas nos toma tanta energia que o presente vai ficando abandonado. Parar para relaxar é um crime, deitar numa rede e balançar sem pensar em nada ou pensar só bobagens é pedir uma “camisa de força”, corrermos tanto e tudo é tão rápido que esse ritmo frenético está nos lançando num abismo profundo de desespero e desesperança, e o pior, essa pressa desarvorada está instalada nas relações amorosas. Não temos mais paciência para conhecer o outro e nos mostrar para o outro, passear de mãos dadas e corações unidos, olhar o mar, tomar sorvete e conversar. A conversa relaxada e o rituais de conquista estão soterrados pela pressa e pelo medo, medo de perder um amor que nem começou, medo da solidão, medo de si mesmo e de se permitir ao outro, vivemos hoje uma sexualidade exacerbada e vazia, que nos empobrece ao invés de nos preencher, que rouba de nós o pouco que já temos e não acrescenta nada ao outro, pois o vazio é a tônica das transas instantâneas, onde muitas vezes, nem se sabe o nome do outro, uma triste realidade, pois o sexo quando existe amor e entrega é sublime e nos deixa plenos ao invés de nos empobrecer.
Estamos sufocando sem ar, sem contato com nossos sentimentos mais profundos, sem contato com quem somos e o que queremos, estamos robotizados num mundo virtual acelerado e num sistema capitalista consumidor que consome nossas almas e sonhos, e quando percebemos estamos sucumbindo sem amor e sem contato com nosso SER. Acordamos atrasados, corremos o dia todo numa maratona insana, vamos dormir moídos e nem conseguimos perceber as coisas boas ao longo do dia, tudo é desesperadamente alucinado, para quê? Por quê? Para quem? Precisamos urgentemente repensar nossas vidas e nossas prioridades.

No amor a pressa é uma armadilha cruel, nem bem se começa a relação já queremos ouvir “eu te amo”, não dá tempo para sentir a emoção de conhecer o outro, de desvelar seu Ser, de se inebriar com o outro, o cheiro, o gostos, o tato, o jeito, de olhar nos olhos, pois o medo de perder o outro é imenso, a solidão é um monstro assustador demais, pois no coloca em contato com nosso “buraco existencial”, e isso é assustador demais para a grande maioria das pessoas. Precisamos de amor, de adrenalina, de sexo, de romance, de atenção, de carinho, mas, esquecemos que precisamos antes de tudo, de nós mesmos, de mergulharmos em nosso Ser e nos conhecermos, nos amarmos e de desenvolvermos nossa fortaleza interior, fortalecermos nossa auto-estima e nosso amor próprio para não jogarmos no outro toda nossa carência e desespero. Mas, infelizmente esquecemos de nós mesmos, e colocamos todo nosso poder no outro, e ai, idealizamos o outro e fatalmente quebramos a cara, pois o outro é apenas uma pessoa real, cheia de defeitos e qualidades, mas nunca nossa idealização, como ainda estamos tão imaturos emocionalmente. Precisamos aprender a arte de saber esperar, de ter paciência para nos conhecermos e conhecermos o outro, dar tempo para o conhecimento e para a criação de vínculos afetivos, que não são instantâneos, precisa de tempo, paciência e investimento para poder florescerem. Vivemos hoje uma indigestão emocional advinda da pressa e de amores mastigados e engolidos inteiros, sem apreciação e “degustação” necessária. A fome desesperada de afeto nos faz aceitar qualquer coisa, qualquer forma de afeto, nem paramos para perceber se é o que queremos, se vai nos satisfazer ou se não serve para nós, o que importa é não sentir solidão, carência, nos submetemos a migalhas afetivas, na maioria dos casos, isso é muito triste. O amor verdadeiro exige tempo, dedicação, paciência, disposição, abertura, entrega, confiança, risos e lágrimas. Precisamos reencontrar o caminho que nos leva para nós mesmos e para a vida verdadeira, sem a tirania da pressa e do desespero.


Janaina Ismenia de Melo.
(foto tirada da internet - gravura de Salvador Dali)

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