terça-feira, 29 de setembro de 2009

DORES DE MARIA!!!


Um telefonema tirou Maria das dores de seus afazeres diários. Uma voz masculina do outro lado da linha lhe informava que seu filho havia sofrido um acidente, com o coração aos pulos e enchente nos olhos ela dirigiu-se para o hospital. Lá chegando, foi convidada para o reconhecimento do corpo, pois não havia identificação nenhuma com o rapaz. Ao olhar seu filho rijo e gélido naquela maca, pensou não suportar tamanha dor. Depois de enterrar seu único filho, saiu caminhando sem rumo, tentando acalmar seu coração e clarear seus pensamentos. Lembrara que um ano atrás perdera seu marido, que era um bom companheiro, já havia perdido três bebês, e agora seu filho tão amado. Muitas perdas para uma mulher só. Estava justificado seu tão odiado nome, que sua mãe havia lhe colocado como uma sentença. Durante uma semana não fora trabalhar, estava de luto, não tinha energia para nada, só para chorar e remoer sua sina. Na volta para o trabalho, preferiu ir caminhando para a casa de sua patroa, assim teria mais tempo para pensar, não via mais sentido algum em sua vida. Parou no viaduto para tomar fôlego, e ao olhar para baixo, sentiu vertigem. Uma centelha de idéia passou pela sua cabeça. Do outro lado da cidade, Lucas pegava o ônibus para a faculdade, cursava o sexto período de psicologia. Era encantado pela psique humana e suas complexidades. Estava refletindo sobre as psicopatologias que estava estudando e olha pela janela, gostava de ver o movimento do ônibus deixar tudo para trás. Nunca esperava ver cena tão chocante, que marcaria sua vida e memória para sempre. Vê o exato momento que uma senhora se atira do viaduto com um grito lancinante e se espatifa no chão, inúmeras pessoas começam a se aglutinar ao redor do cadáver, todas contando sua versão do fato. Lucas ainda impactado pela cena, não conseguia concatenar os pensamentos. Pensou: “Não posso. Não posso pensar na cena que visualizei e que é real”. O ônibus continuou seu itinerário deixando para trás aquela tragédia sem nome e sem rosto. Lucas chega à universidade ainda em estado de choque e conta para sua amiga a cena que havia presenciado, dizia não conseguir fechar os olhos que a imagem daquela senhora com toda sua dor e seu grito lhe invadiam o espírito, lhe saltavam aos olhos. Naquela noite não conseguiu dormir, refletia profundamente sobre a vida e a morte, em como a vida é um fio muito delicado e como estamos a todo o momento neste limite, como é preciso ter cuidado com a vida, consigo mesmo e com os outros. O cuidado é uma forma fundamental de se colocar na vida. Escolheu psicologia, pois queria cuidar da vida daqueles mais carentes, de pessoas que estavam à beira do abismo como àquela senhora, que se tivesse tido uma escuta e acolhida, talvez não tivesse chegado ao extremo do suicídio. Assumiu de maneira ainda mais forte seu compromisso social enquanto futuro profissional, e iniciou um trabalho voluntário junto a alguns colegas com crianças e idosos carentes, uma forma de aquecer o coração e alegrar a vida dessas pessoas tão esquecidas e marginalizadas pela sociedade do espetáculo e superficialidade que vivemos.

JANAINA MELO.

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