sexta-feira, 30 de abril de 2010

"FAMÍLIA: UM CALEIDOSCÓPIO DE RELAÇÕES".

Resenha do texto: “Família: Um caleidoscópio de relações”

                                   (Giselle Câmara Groeninga.)





O texto de Gisselle Câmara fala das famílias e suas relações com um olhar psicanalítico. O título já é bem interessante porque já fala da família como caleidoscópio de relações, o que nos remete a pensarmos a questão da intensa mudança e atividade envolvida nas relações familiares, num constante vir-a-ser, já que o caleidoscópio é um aparelho que apresenta variações em constante mutação, assim como as famílias e os conceitos de famílias construídos socialmente ao longo da história. A família, segundo a autora, “é um sistema de relações que se traduz em conceitos e preconceitos, idéias e ideais, sonhos e realizações. Uma instituição que mexe com nossos mais caros sentimentos.”
Há inúmeras construções sociais acerca da família que foram se formando ao longo da história da humanidade, que passam pelos estudos da antropologia, da sociologia, da filosofia e desde o do século XIX também pela psicologia. E um fato interessante que permeia esta construção histórica é a crise que sempre se fez presente, enquanto elemento agregador e desagregador dessas relações, dando a elas um caráter dinâmico e mutável, incluindo ai os afetos e desejos.
A psicanálise tem uma importância significativa e fundamental para o século XX, tanto enquanto ferramenta terapêutica que possibilita ao homem uma reelaboração do seu material psíquico, como uma ressignificação das suas dores e conflitos, incluindo ai os desejos e afetos. Como também enquanto edifício teórico que pôde dialogar com a filosofia, com a antropologia, a sociologia e a própria psicologia, servindo de base teórica para a psiquiatria e para várias abordagens na psicologia. Quando Freud traz a questão do inconsciente, no sentido de que “não somos senhores de nossa consciência – estando sujeitos a nossos desejos e à nossa destrutividade, ao nosso inconsciente”, além de segundo ele, ter causado a terceira ferida narcísica na humanidade, ele ainda nos mostra a nossa impotência diante do desconhecido que há em nós, que não é do nosso domínio absoluto. Além de não termos o domínio absoluto de nós mesmos, tanto nossa consciência como nossa subjetividade é construída nas relações, na trocas, incluindo ai a família e a sociedade. Desde a Grécia antiga, os filósofos já falavam da importância da sociedade, principalmente Platão e Aristóteles. Eles e muitos outros pensaram sobre a sociedade, sobre o homem político, sobre sua forma de ser e estar no mundo, e Freud também pensou o homem nas suas relações sociais e políticas. Freud foi beber na filosofia, nos mitos, na arte, na antropologia para a sua construção teórica sobre o homem e suas dimensões psíquicas. Os mitos são importantes e a autora nos fala do mito de Édipo e do Pai da Horda Primitiva, para ilustrar de forma fecunda a questão da formação dos vínculos familiares. A autora nos diz “A identidade de uma família não se dá só pelo vínculo genético, a inserção genealógica não se dá só pela transmissão de nome. São valores e regras particulares àquela família, e também seus segredos e conflitos, que vão ser transmitidos de geração em geração pelas identificações, conscientes e inconscientes como os modelos ai disponíveis.”
A questão do afeto é fundamental na nossa formação enquanto ser humano e ser social, incluindo ai a agressividade também, já que a agressividade é fundamental na formação psíquica enquanto impulsionadora para a ação no homem no mundo, pois Freud vai formular os princípios de vida(Eros) e de morte (tanatos), que são fundamentais no contexto psicanalítico, “O psiquismo constitui-se por meio das semelhanças e diferenças.” O conflito edípico tem um papel estruturante e fundamental na formação da personalidade de criança, “O que Freud chamou de ambivalência afetiva originária e a vivência edípica vão imprimir aos afetos uma direção, retomamos que são naturais os desejos amorosos e hostis que a criança tem em relação aos pais, (...) por meio da chamada conflitiva edípica, analisam-se na formação do indivíduo as fantasias, os afetos, a ambivalência afetiva originária, as leis de constituição da família, o inconsciente.” Os lugares e funções vividas dentro do contexto familiar são fundamentais na estruturação psíquica. Entra ai a questão da interdição, feita pela função paterna, sendo essa função ordenadora das relações dentro da família. No amadurecimento das funções motoras e psíquicas a criança vai adquirindo a linguagem e desenvolvendo o pensamento e as funções psíquicas, sendo formado o superego e suas internalizações morais, seus códigos e leis, para o sujeito poder viver em sociedade, pois quando não há o fortalecimento do superego e da lei acontecem as patologias e desordens sociais por indivíduos que não conseguiram internalizar limites. A família é fundamental enquanto instância de formação das relações e cultura. “Os ciclos vitais implicam mudanças de posição dos membros da família, na elaboração de seus afetos, no assumir de novas funções, é o que foi descrito como a conflitiva edípica. O ciclo de vida das pessoas se encaixa, por sua vez, no ciclo de vida familiar. Sob esta perspectiva novamente deparamo-nos com um caleidoscópio de relações.”
Para finalizar, é importante destacar o papel do psicólogo enquanto mediador nessa relação familiar, conjugal, pessoal, mas sempre psíquica. Cabe ao psicólogo, psicanalista e psiquiatra, estar bem preparado para atender as demandas que chegam ao seu consultório ou ambiente de trabalho, seja hospitalar, comunitário ou outros, para poder intervir de uma forma ética e competente. Para isto é fundamental uma sólida formação teórica e a experiência que ele vai adquirindo ao logo de sua vida profissional, pois sempre se estabelece relações afetivas entre sujeito de conhecimento e desejos, mas cabe ao profissional saber manter-se na sua função, sabendo despir-se de seus preconceitos e crenças para intervenções nos mais diversos contextos e realidades, podendo através de sua ética profissional e competência fazer um trabalho terapêutico eficaz.

JANAINA ISMENIA DE MELO.
(foto tirada da internet)

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